6 de maio de 2014

RESENHA: GRAFFITI MOON - Cath Crowley (Ed. Valentina)



Oi, gente.

Hoje vou falar sobre um livro que todo mundo falou muito bem, mas que, infelizmente, não conseguiu me conquistar: GRAFFITI MOON da CATH CROWLEY, lançado pela EDITORA VALENTINA.

Graffiti MoonGRAFFITI MOON
CATH CROWLEY
Editora: VALENTINA              
Ano: 2014                  
Nº págs: 240
Gênero: Romance, Drama

SINOPSE: Uma aventura emocionante e perigosa como um grafite clandestino. Uma noite de arte e poesia, humor e autodescoberta, expectativa e risco e, quem sabe, amor verdadeiro. Um artista, uma sonhadora, uma noite, um significado. O que mais importa? O ano letivo acabou, aliás, o último ano do ensino médio. Lucy planejou a maneira perfeita de comemorar: essa noite, finalmente, ela encontrará o Sombra, o genial e misterioso grafiteiro, cujo fantástico trabalho se encontra espalhado por toda a cidade. Ele está de spray na mão, escondido em algum lugar, espalhando cor, desenhando pássaros e o azul do céu na noite. E Lucy sabe que um artista como o Sombra é alguém por quem ela pode se apaixonar — se apaixonar de verdade. A última pessoa com quem Lucy quer passar essa noite é o Ed, o cara que ela tem tentado evitar desde que deu um soco no nariz dele no encontro mais estranho de sua vida. Mas quando Ed conta para Lucy que sabe onde achar o Sombra, os dois de repente se juntam numa busca frenética aos lugares onde sua arte, repleta de tristeza e fuga, reverbera nos muros da cidade. Mas Lucy não consegue ver o que está bem diante dos seus olhos.

Fiquei bem interessada para ler o livro depois de ver alguns blogueiros falando sobre ele no twitter. Imaginei que seria um romance diferente, algo tocante, um drama de rasgar o coração e dilacerar a alma, mas não foi o que encontrei. Diferenças? Existem muitas, mas em vários momentos a sensação de “mais do mesmo” não me abandonou.

As partes da história que envolvem arte são magníficas. CROWLEY explorou muito bem esse lado da obra. O mundo da arte, as dificuldades que a cercam, as poucas oportunidades que os envolvidos nesse ramo têm, tudo isso foi perfeitamente abordado pela autora, de forma que o leitor pudesse compreender todos os obstáculos pelos quais os protagonistas passaram. Mas, mais que isso, o que me surpreendeu nessa parte artística foi a forma de CATH descrever. TUDO que se relaciona a arte no livro é passível de ser imaginado pelo leitor. Não há um muro pintado que não aflore em nossa cabeça, não há cores que não imaginemos e não há sentimentos em relação a essa arte que não nos toque. Todas as sensações que os personagens sentem, ao estar diante de uma pintura do grafiteiro conhecido como O Sombra, nos tocam e nos fazem sentir exatamente o mesmo. Para mim, tudo isso foi descrito com tamanha riqueza de detalhes que é impossível ler e não ficar emocionada com a forma como a autora conseguiu passar para o papel as imagens.

O problema que encontrei na leitura foi em relação ao romance de Lucy e O Sombra. Lucy é uma menina que vem de uma família estruturada, apesar de diferente (o que rende ótimos momentos durante a leitura), estuda com afinco, ama sua própria arte e em muitos aspectos parece uma jovem mulher madura; mas foi em sua relação com O Sombra que minha admiração pela personagem foi embora. Lucy queria encontrar O Sombra, pois estava obcecada com seus grafites. Porém, ela não queria apenas conhecê-lo por admirar sua obra, ela estava apaixonada e queria um relacionamento com um cara que nunca viu, e, com isso, foi idealizando o rapaz, imaginando que ele seria perfeito, seu par ideal. Até aí, nada contra, ela é uma adolescente de 17 anos e é perfeitamente compreensível, o problema começou quando ela conheceu O Sombra.

O Sombra é um grafiteiro jovem, vindo de um lar desfeito, que abandonou a escola, tem dificuldade de aprendizado e vive vagando pelas ruas. Sim, ele tem um emprego (até certo momento da narrativa) e ajuda a mãe em casa, mas até mesmo ela se preocupa com o futuro do filho, que, apesar de ter bom coração e ser um artista incrível, é aquele típico rapaz perdido, que não sabe para onde vai e que precisa de MUITA orientação na vida. Alguém completamente diferente do idealizado por Lucy, mas que só por ser O Sombra, que ela achava ser O Cara, a satisfez, e foi aí que passei a não gostar do romance.

Infelizmente, para mim, a idade está chegando, e não consegui ler esse romance sem pensar que se Lucy fosse minha filha, teria me deixado de cabelo em pé com o envolvimento com O Sombra. Fatos que não posso citar aqui, por serem spoilers, passaram a me deixar com o pé atrás em relação ao personagem, e o que era para ser visto pelo leitor como um amor verdadeiro que nasce de duas pessoas tão diferentes, passou a ser visto por mim como uma muleta. Parecia que Lucy serviria de muleta, um apoio para O Sombra, para que ele não fosse para o caminho errado da vida, e não gosto desses romances adolescentes em que um se torna tão dependente do outro. Dependência não é amor, e mais cedo ou mais tarde gera pena, que é o pior sentimento que se pode ter por alguém que está ao seu lado como companheiro.

Que O Sombra é um artista brilhante e talentoso não há dúvida, mas também é um garoto perdido, capaz de bobagens por ser fiel àqueles que ama, e que aos quase 18 anos ainda não está com seu caráter moldado. Ele precisa de apoio e orientação, e eu compreenderia isso se fosse relacionado apenas com sua arte, pois todos sabemos o quanto é difícil viver dela, mas o personagem parece precisar de orientação em relação a tudo, do contrário, será mais um jovem perdido.

Essas histórias de amor com pessoas tão diferentes são lindas, mas a mim não convencem. Em um determinado momento Lucy diz a ele que não se importa com o fato de ele ter abandonado a escola, não saber ler direito e não ter mais emprego, que o importante é o amor. E é aí que caímos naquela velha história da forma como os jovens sublimam esse sentimento de forma totalmente irracional. Ok, são adolescentes, mas um pouco de realidade não faz mal a ninguém. São justamente esses adolescentes que por conta desse amor despreocupado e incondicional acabam fazendo alguma besteira que lhes marcam a vida para sempre.

O que me incomoda no desenvolvimento desses romances é que os autores parecem querer dizer: “meninas, apostem nos problemáticos, eles têm conserto! Se vocês lhe servirem de guia, eles podem mudar”. E sim, isso me irrita, pois fica parecendo que o amor é lindo em todas as formas e que não há problema algum em servir de muleta para outra pessoa na vida. Essas diferenças, que por causa da paixão cega não fazem diferença agora, um dia vão fazer. Por mais preconceituosa que eu possa estar parecendo nesse momento, é uma realidade. Quando o dinheiro não der para pagar água, luz, não der para comprar comida, é que esses jovens vão ver não é possível viver apenas de amor; quando estiverem em determinados círculos sociais, que virem que um dos companheiros não sabe se portar a mesa, fazem ruídos estranhos, não sabem segurar no talher, e não conseguem ter assunto com o restante das pessoas presentes, essas diferenças se farão cada vez mais presente e vão afastar cada vez mais o casal, e é por isso que esses romances me irritam tanto, eles parecem encorajar as mulheres a quererem os homens “errados” para sentir que são capazes de mudá-los, para que elas possam se sentir mais amadas quando pensarem “ele mudou por mim”.

Claro que acredito na mudança do ser humano, mas ela tem que vir de dentro, tem que acontecer por vontade própria, temos que mudar por nós mesmos, não por outras pessoas. E não gosto desses romances onde parece que a responsabilidade de mudar um homem e moldar seu caráter estão nas mãos de uma mulher, em vez de estar na família dele.

Sou completamente a favor de O Sombra receber orientação em sua vida profissional. Claro que nesse ramo é preciso ajuda, é preciso um padrinho, mas sou contra que ele precise disso em sua vida pessoal também, e foi exatamente como um suporte que vi Lucy nessa história. No início, tudo serão flores. O amor será suficiente para mantê-los unidos, mas por quanto tempo? E depois? E o que me deixa mais arrasada nessas histórias é isso, não há um depois. Os livros terminam de forma a imaginarmos um “e mesmo com todas as diferenças, eles foram felizes para sempre”, e por conta disso só consigo imaginar quantas jovens meninas se interessarão por rapazes perdidos por causa dessa ideia de que é possível transformá-los em homens decentes e de sucesso. 

Peço perdão se pareci demasiada preconceituosa, mas como disse lá em cima, estou ficando velha, e não consegui ler GRAFFITI MOON sem pensar qual seria minha reação se minha filha fosse Lucye chagasse em casa com O Sombra a tiracolo. 

Contudo, como tantos romances com personagens dessa idade estão sendo desenvolvidos dessa maneira pelos autores, creio que o leitor já está acostumado com essa sublimação do amor, e, portanto, vai encontrar algo bem diferente em GRAFFIT MOON no que se refere à Arte, e essa será a parte que irá compensar a leitura do livro.



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3 comentários:

  1. Não estava muito animada com esse livro justamente por causa do romance, apesar de não imaginar nada disso. Achei que o tal do Ed que ela odeia seria O Sombra e teriam relação de amor e ódio. Enfim, só tenho a concordar com você. Ninguém deve ser muleta de ninguém. Mas talvez ainda leia pela questão da arte. Ótima resenha.

    Abraço!
    http://constantesevariaveis.blogspot.com.br/

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  2. Oi Mari! Nossa, pela sinopse pensava que o livro era completamente diferente. Tipo, claro, teríamos a arte e tal, mas não imaginei que O Sombra seria assim. Me desanimou um pouco, é chato mesmo quando um fica dependendo do outro pra tudo, irrita. Mas ainda tenho bastante curiosidade em ler, tomara que eu goste mais do que você rs.

    Beijos,
    Adri Brust
    Stolen Nights

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  3. Pensei que o livro fosse um romance mais moderno, esse negocio de que o amor supera tudo é velho e irreal. Ja que a menina era a muleta do garoto podia incentivar o cara a pelo menos aprender a ler e terminar os estudos. Mas o que você disse é verdade verdadeira ninguém muda o outro, a mudança vem da pessoa quando ela sente que precisa seguir por um novo caminho e evoluir.

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