26 de julho de 2013

RESENHA: VOU LHE MOSTRAR O MEDO - Nikolaj Frobenius (Ed. Geração)

Oi, gente!

Vou terminar essa semana falando de um livro que eu estava louca para ler: VOU LHE MOSTRAR O MEDO, do norueguês NIKOLAJ FROBENIUS, lançado esse mês pela editora GERAÇÃO.

Vou lhe mostrar o medoSINOPSE: Edgar Allan Poe (1809-1849), o célebre poeta e autor de histórias de terror, bem como criador do gênero policial na literatura, é o protagonista deste romance de suspense psicológico, que discute os limites da criação literária e a responsabilidade moral da arte. Nele vemos o jovem escritor norte-americano afligido pela pobreza, angustiado com a enfermidade da sua frágil esposa e assombrado por um maníaco que comete assassinatos inspirados nos seus escritos, além de sabotado em sua carreira pelo crítico literário Griswold, que lhe dedica um misto de admiração e ódio. Publicado em toda a Europa, traduzido em dez idiomas e plagiado por Hollywood, este romance premiado marca a estreia, no Brasil, de Nikolaj Frobenius, um dos grandes expoentes da moderna literatura norueguesa. 

Desde que eu soube que esse livro seria lançado fiquei ansiosa para poder ler. Adoro Poe e queria conferir como seria ver um serial killer colocar em prática suas histórias macabras.

Quando o livro chegou, tive um ataque de felicidade! Estava louca para ler mais sobre Poe e os crimes, afinal, eu havia terminado de assistir THE FOLLOWING dez minutos antes de o correio chegar com o livro. Hora que comentei no twitter que estava com VOU LHE MOSTRAR O MEDO em mãos, a Karen, do blog POR ESSAS PÁGINAS, disse que o filme O CORVO, com John Cusak, havia sido baseado nele. Aí sim explodi de felicidade, primeiro porque não fazia ideia desse fato, e segundo porque já assisti ao filme umas três vezes e ADOREI.

Foi pensando em O CORVO e em THE FOLLOWING que mergulhei em VOU LHE MOSTRAR O MEDO. Como os dois primeiros pouco se assemelham, fiquei muito curiosa para saber qual deles havia mais em comum com o livro do NIKOLAJ, e aí minha surpresa foi ainda maior, pois tive a sensação de estar diante de três obras diferentes que apenas seguiram uma premissa maior. Sou a primeira a criticar as adaptações que não são fiéis ao livro, mas nesse caso tenho que dizer que o contato que tive com as três obras me deixou imensamente feliz e que classifico as três como espetaculares.

Dito isso, vocês já sabem que vou fazer muitos e muitos elogios a VOU LHE MOSTRAR O MEDO.

Fiquei fascinada com a forma de NIKOLAJ narrar. Enquanto o filme e a série são bastante dinâmicos e cheios de ação, o livro conta com uma narrativa morosa, bastante arrastada, e com muitos, muitos detalhes. Quem espera encontrar um livro policial nos moldes comuns vai se surpreender bastante, pois tudo vai acontecendo de forma extremamente lenta, porém igualmente fascinante.

Claro que a vida e morte de Poe causam uma curiosidade tremenda em todos, mas NIKOLAJ fez um trabalho primoroso ao retratar a vida do autor. Estudei Poe na faculdade e tive a sensação de estar lendo sua biografia. Todos os pormenores de sua vida foram esmiuçados e contados. O enredo policial toma um lugar secundário na incrível narrativa do que foi a vida de Poe.

Foi extasiante a forma como NIKOLAJ conseguiu inserir a ficção dos crimes na tão real e sofrida história do autor. Tudo foi tão bem elaborado, e a vida de Poe foi tão bem retratada, que por diversas vezes fiquei imaginando se essa parte ficcional de crimes não poderia ter realmente acontecido, afinal, muito mistério ainda ronda ao redor de Poe.


Não vou dizer que recomendo o livro a todos os fãs de policiais, pois sei que a maioria gosta de livros com muita ação e suspense, mas para aqueles que gostam de uma narrativa mais lenta, pormenorizada, e têm curiosidade para saber sobre a vida de Poe, e porque ele causa tanta curiosidade até hoje, recomendo muitíssimo VOU LHE MOSTRAR O MEDO, garanto que muita gente vai ficar em dúvida sobre o que é real e o que é ficção.


FICHA DO LIVRO


VOU LHE MOSTRAR O MEDO
NIKOLAJ FROBENIUS
Editora: GERAÇÃO EDITORIAL                      
Ano: 2013                  
Nº págs: 296
Gênero: Policial, Suspense





Agora, vejam uma entrevista do autor sobre VOU LHE MOSTRAR O MEDO:


Como e quando teve início a sua fascinação por Edgar Allan Poe?
A primeira vez que ouvi um conto de Edgar Allan Poe foi durante uma viagem que fiz com meu pai quando eu tinha 13 anos. Era outono e fomos para um chalé no bosque, na região leste da Noruega. Estávamos em meados de outubro e o clima encontrava-se úmido e sombrio. O chalé era isolado, não havia eletricidade e a atmosfera era soturna — perfeita para uma historinha horripilante. Não havia TV e nem radio no chalé, nenhum acesso a entretenimentos modernos, mas ao anoitecer meu pai tirava um livrinho da estante e lia um conto para mim. A história era incrivelmente simples, sobre um homem que vagueia pelas ruas da velha Londres, observando as pessoas, entusiasmado com a atmosfera febril da metrópole. Ele se senta num café para descansar. Na multidão à sua frente, vislumbra um homem muito velho percorrendo a praça sem rumo. Por curiosidade começa a seguir o velho através de ruas e vielas estreitas, durante horas. O velho apenas anda e anda, sem direção, sem propósito, e no final o narrador desiste. Não há objetivo, não há motivo algum, apenas caminhar sem fim. Esse é o enredo do conto de Poe “O homem na multidão”É incrivelmente simples, quase absurdo. Mas o modo como foi escrito, o terror reprimido do narrador e as aleias escuras da velha Londres, causaram uma tremenda impressão em mim quando eu era garoto. Continuei a ler os contos de Poe e, mais tarde, interessei-me também por seus ensaios e poemas. Seus contos são de suspense psicológico e acho que foi essa combinação que me fascinou: o horror da alma.

O seu livro traz uma ligação bastante sutil entre Griswold, Poe e Samuel, o assassino. Griswold condena Poe por ser amoral como escritor e como poeta, ao passo que Samuel — o homem que comete assassinatos sangrentos inspirado pelos contos de Poe — é um personagem completamente amoral. Seria isso um modo sutil de sugerir que Griswold tinha razão em sua opinião de que a poesia deve sempre ter uma justificação moral?
No que se refere a Samuel, acho que as ações dele dificilmente podem ser compreendidas como algo além de um terrível mal-entendido. Mas creio que também demonstra a vulnerabilidade da literatura. Não existem garantias, para o escritor, de que ele será entendido, e textos às vezes podem ser mal interpretados de formas muito destrutivas. Mas há outra camada no romance que se ocupa — como você mencionou —, do subtexto amoral dos escritos de Poe. Assim, embora Samuel Reynolds seja com certeza o tipo de fã obcecado que nenhum autor deseja ter, ele foi influenciado pelo elemento misantrópico do universo de Poe. A atmosfera de perigo nos contos de Poe também está associada aos elementos de violência e horror da sua ficção, ele tem um autêntico instinto para isso. O que talvez explique por que Poe continua sendo um escritor tão controverso.

Quem são seus escritores favoritos e de que modo eles inspiram você?
Li Edgar Allan Poe quando adolescente, juntamente com Dostoievski e William Faulkner. O material “dark”. Mais tarde, passei a ler de forma mais abrangente e tive uma forte queda por escritores sul-americanos, como Borges e Bolano. Sempre apreciei o gênero noir e recentemente li muita coisa do escritor norte-americano de literatura pulp David Goodis. Sujeito perturbado. Escreve formidavelmente.

A sua ideia para o romance Vou lhe mostrar o medo é exatamente a mesma do filme O corvo, que estrelou John Cusack no papel de Poe, mas o seu nome não foi mencionado nos créditos. Foi plágio ou você fez algum tipo de acordo com os produtores do filme?
Bom, às vezes acontece de você ter uma ideia realmente boa e então alguém a retalha toda e finge que é dele. Isso não contribui muito para a minha boa opinião sobre a humanidade, mas não há dúvida de que existem por aí abutres à procura de ideias para adotar, roubar e devorar. Na verdade, o filme foi bem decepcionante, a ideia acabou sendo melhor que o próprio filme, o que me parece justo: se você rouba as ideias dos outros, receberá algum tipo de castigo no final.

Não são muitos os autores noruegueses conhecidos dos leitores brasileiros. Em sua opinião, quem são os melhores autores da Noruega e o que você tem a dizer sobre deles?
A Noruega é um país pequeno, mas somos abençoados com uma literatura bastante rica, tanto tradicional quanto contemporânea. Knut Hamsun, o Dostoievski norueguês, Henrik Ibsen e Sigrid Undset são provavelmente os escritores noruegueses mais célebres. O bom a respeito da literatura norueguesa contemporânea é que existem realmente muitos estilos e perfis, há escritores jovens que mergulham na vida privada do aqui e agora, mas existem também alguns que procuram dar vida nova a gêneros antigos, como o noir, o romance político, etc.

Você está com algum projeto novo no momento? Pode falar a respeito?
Estou concluindo um novo romance, intitulado A maldição. É um romance sobre um romancista que escreve um romance autobiográfico a respeito da infância dele e de um incidente particular em que uma escola foi incendiada. O culpado é expulso da escola e, mais tarde, dado como morto. Porém, muitos anos depois, o piromaníaco volta para se vingar do modo como foi retratado no romance, e o romancista é lenta porém inevitavelmente envolvido numa teia sinistra. Esse é o enredo, e no momento o meu trabalho consiste em tornar cada frase tão boa quanto possível.



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3 comentários:

  1. Ah, que lindo, Mari, você falou de mim! *_* Que amor!!! =)
    Menina, sabe que eu tive essa mesma sensação quando assisti ao filme O Corvo? Isso de ficar pensando "mas será que não foi mesmo assim que aconteceu?". É tão imersivo que a gente se sente assim, muito legal saber que o livro também é (na verdade, o livro veio antes, então o livro que também é...). Aliás, muito chato que não citaram o autor no filme. Eu entendo toda a raiva dele como disse na entrevista, mas eu gosto do filme também e, pelo que você disse na resenha, tenho certeza que esse é um livro pra mim! :)

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  2. Mari, adorei a resenha! Nunca vi O Corvo e nem acompanho The Following, mas me interessei bastante por esse livro.

    Abraço!
    http://constantesevariaveis.blogspot.com.br/

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  3. Gostei muito da resenha, mas não acho que o livro vá me agradar, porque narrativas lentas nunca foram as minhas favoritas.
    Beijos.

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