4 de setembro de 2013

RESENHA: O CULPADO - Lisa Ballantyne (Ed. Record)

Boa tarde, pessoal.

Hoje vou falar de uma leitura incrível que fiz no finalzinho de agosto: O CULPADO, livro de estreia da LISA BALLANTYNE, lançado pela RECORD.

O CulpadoSINOPSE: Um crime brutal abala a pacata Islington, em Londres. Um menino de 8 anos é encontrado morto em um parquinho numa tarde de domingo. O principal suspeito é seu amigo, Sebastian Croll, de apenas 11 anos, com quem ele brincava minutos antes do assassinato. À frente do caso está Daniel Hunter, um experiente advogado que, apesar de ter dedicado anos de sua vida defendendo jovens delinquentes, desenvolve uma estranha relação com o acusado, um garoto educado e inteligente, mas é um tanto agressivo, que faz Daniel relembrar sua infância difícil e o obriga a confrontar dramas que ele pensava terem ficado enterrados do passado. 


Fiquei bastante interessada pelo livro após ler a maravilhosa sinopse dele. Mas, após a leitura, posso dizer que O CULPADO me dividiu. O livro é excelente! Dei nota 4 no skoob e só não dei 5 porque algumas coisinhas me incomodaram.

Primeiro quero falar de tudo que gostei.

Comecei a leitura pensando que seria um livro policial, mas logo percebi que era um drama com suspense, fato que me fez adorar o livro e não ficar imaginando mil possibilidades para ele. Li sabendo que em muitos momentos a tristeza e a angústia me dominariam, e que meus simplórios “dotes” de detetive poderiam ser deixados de lado.

Adoro histórias que se passam em tribunais e que nos permite dissecar a vida dos personagens envolvidos, mas a narrativa de LISA permitiu mais que isso. A autora foi alternando os capítulos, ora falando da vida de Daniel enquanto advogado do acusado Sebastian, ora expondo o passado de Daniel para o leitor. A abordagem feita sobre o passado do personagem foi perfeita e tocante. Através de suas lembranças, pudemos acompanhar como uma criança tão problemática conseguiu subir na vida, mas como as tragédias que viveu o assombraram até o presente. Em relação ao passado do advogado, é mantido o mistério dos motivos que o levaram a romper relações com Minnie, a mulher que o adotou e o amou. Chega até ser mágica a forma como LISA narra a vida de Daniel e Minnie na fazenda, e sempre vai nos dando um aperto no peito de saber que essa relação tão bela uma hora irá acabar. Esse foi o primeiro acontecimento do livro que me dividiu. Quando explicada as razões, entendi o lado de Minnie e a mágoa de Daniel, e simplesmente não consegui tomar partido, justamente por ter compreendido os sentimentos de ambos.

A vida atual de Daniel também é narrada de forma magistral. É emocionante acompanhar Daniel na defesa de Sebastian. A forma como ele se doa ao caso, como se doa ao garoto, como quer o bem dele, como se imagina no lugar dele... Tudo isso nos comove e nos faz prosseguir com a leitura de forma desesperada.

Quanto a Sebastian, é bastante triste ver um garoto de 11 anos acusado de matar um amiguinho de 8. Mas que o garoto é estranho, isso ele é. Contudo, existem razões para sua personalidade tão peculiar. Explicações essas que se relacionam com os pais do menino, e nos chocam e nos fazem sofrer.

Todos os personagens do livro são extremamente bem explorados, em qualquer aspecto que tomemos como base para analisá-los. Mesmo aqueles que aparecem pouco, as palavras que os definem são suficientes para que os caracterizemos em nossas mentes.

Agora vou falar do outro aspecto que me dividiu e que fez com que não desse nota 5 ao livro.

Senti que com O CULPADO a autora quis “cutucar” o sistema penitenciário para crianças e jovens da Inglaterra. Apesar de ter adorado Daniel, ele é a figura que ela usa para por para fora suas opiniões sobre os assuntos citados. A situação é que na Inglaterra, crianças acima de 10 anos, ficam nas penitenciárias enquanto aguardam julgamento por homicídio, pois tal acusação não permite fiança. E Daniel vai falando do absurdo que considera o fato de Sebastian estar em um local desses, que as medidas adotadas deveriam ser educativas, etc. No meio dessa narrativa, o advogado também vai lembrando de seu caso anterior, quando um garoto de 17 anos assassinou uma pessoa e depois tentou se matar na cadeia por não aguentar estar em um lugar daquele.

E foi nisso que o livro me dividiu demais. A todo momento Daniel falava do ex-cliente com tristeza, dizendo que o garoto não deveria estar preso, que não tinha maturidade nem pra compreender o que de fato havia feito nem para viver na cadeia. Ok, como assim? Um cara de 17 anos não tem noção que matar é errado?  Não sabe que não deve fazer isso? Então é fácil: ele mata, e por ser considerado imaturo, recebe uma medida educacional. E aí pergunto: onde fica a justiça para a família da vítima? No caso desse jovem, ele matou um rapaz de uma gangue, o que não justifica o ato, mas também poderia ter matado qualquer inocente. Acho absurdo dizer que aos 17 anos a pessoa não tem absoluta compreensão de seus atos.

O mesmo pesar Daniel fica tento durante o julgamento de Sebastian. Assim como o leitor, ele fica perdido se acredita ou não na inocência de Sebastin, mas isso não o impede de formular opiniões contra o sistema prisional. E então temos duas vertentes: Se Sebastian for inocente, sim, é bastante triste que ele tenha que passar pelo que está passando. Triste, mas não acho errado; mas se for culpado, não sinto a mínima dó e não acredito que ele deveria receber medida educativa em vez da cadeia, pois o menino assassinado, de apenas 8 anos, teve a face esmagada com um tijolo! A crueldade por trás do ato independe da idade do assassino.

E esse foi o ponto pelo qual não dei nota 5 ao livro. Uma simples divergência de idéias e opiniões. Respeito o fato de LISA ter abordado o assunto no livro e usá-lo para expressar seus ideais, mas, acredito que para nós, brasileiros, fica mais difícil entender esse lado “belo e educativo” que as crianças criminosas deveriam ter, afinal, convivemos diariamente com crimes praticados por menores, e pior, muitos cometidos justamente pelo fato de serem menores e saberem que “não vai dar nada”.

Sou a favor de baixar a maioridade penal, sim! Claro que existe uma diferença muito grande em condenar uma criança de 10 anos que roubou para poder comer, e uma criança de 10 anos que assassinou alguém. A verdade é que acredito que qualquer pessoa, independente da idade, deva ser julgada como adulta em caso de assassinato.

Obviamente, a critica da autora deve valer na Europa, pois eles têm uma realidade completamente diferente da nossa. Mas, como leitora brasileira, sinto-me no direito de adaptar os fatos do livro a nossa realidade social, e pelo que vivenciamos diariamente, não me oponho ao sistema penitenciário apresentado no livro.


Quanto ao final, não posso dizer que fiquei surpresa, era algo até esperado diante de tantos fatos apresentados. Mas com certeza O CULPADO merece ser lido. Daniel e Sebastian são personagens incríveis e que nos fascinam com suas personalidades e atitudes. Confiram ;)


FICHA DO LIVRO

O CULPADO
LISA BALLANTYNE
Editora: RECORD                       
Ano: 2013                  
Nº págs: 350
Gênero: Drama

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3 comentários:

  1. Me parece bem interessante, mesmo o drama/suspense não sendo meu gênero mais lido. Se bem que isso pode ser até um fator a mais para que eu leia, hahaha.
    Isabela

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  2. Parece um livro bem interessante, emocionante mesmo. Mas concordo com seu ponto de vista, crimes hediondos devem ser punidos independente da idade do autor. Não sou a favor da redução da maior idade penal, mas da extinção dela.

    Abraço!
    http://constantesevariaveis.blogspot.com.br/

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  3. Adoro livros deste gênero, os sentidos ficam em alerta.
    Bjs, Rose.

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