12 de janeiro de 2016

RESENHA: A SEXTA EXTINÇÃO - Elizabeth Kolbert (Ed. Intrínseca)



Olá, pessoal!

Como vocês estão?

Já conversei com vocês sobre as mudanças aqui do blog e uma delas será a presença de mais resenhas do gênero NÃO-FICÇÃO. Até 2015 li poucos livros do gênero, mas os que li me agradaram ao extremo, é por isso que em 2016 quero aproveitar todas as chances que tiver de me embrenhar nessas leituras. No final do ano, já sabia por quais mudanças o blog iria passar, e tendo isso em mente solicitei dois livros do gênero com a INTRÍNSECA, um deles foi A SEXTA EXTINÇÃO da ELIZABETH KOLBERT, que vou contar para vocês todas as etapas dessa leitura.

A sexta extinçãoA SEXTA EXTINÇÃO
ELIZABETH KOLBERT
Editora: INTRÍNSECA              
Ano: 2015
Nº págs: 336
Gênero: Não-Ficção

SINOPSE: Ao longo dos últimos quinhentos milhões de anos, o mundo passou por cinco extinções em massa brutais, nas quais sua biodiversidade caiu de maneira abrupta. A mais conhecida foi a que eliminou os dinossauros, quando um asteroide colidiu com o planeta há 65 milhões de anos. Hoje vem sendo monitorada a sexta extinção, possivelmente a mais devastadora da história da Terra. Mas, dessa vez, a causa não é um as - teroide ou algo semelhante. Nós somos a causa. Em A sexta extinção, a jornalista Elizabeth Kolbert explica de que maneira o ser humano alterou a vida no planeta como absolutamente nenhuma espécie o fizera até hoje. Para isso, lança mão de trabalhos de dezenas de cientistas nas searas mais diversas e vai aos lugares mais remotos em busca de respostas. Kolbert apresenta ao leitor doze espécies — algumas desaparecidas, outras em vias de extinção — e, a partir daí, chega à conclusão assustadora de que uma quantidade inigualável de animais está desaparecendo bem diante de nossos olhos. Ao mesmo tempo, a jornalista traça um panorama de como a extinção tem sido entendida pelo homem nos últimos séculos, desde os primeiros artigos sobre o tema, do naturalista francês Georges Cuvier, até os dias de hoje. Kolbert mostra que a sexta extinção corre o risco de ser o legado final da humanidade e nos convida a repensar uma questão fundamental: o que significa ser humano?

Leio não-ficção da mesma forma que livros de contos, um pouco por dia, e por isso vou apresentar a resenha do livro em forma de diário, confiram:


LIDO EM 04/01 – PRÓLOGO, A SEXTA EXTINÇÃO e OS MOLARES DO MASTODONTE

É com um PRÓLOGO fascinante que ELIZABETH abre seu livro e nos insere no contexto do que vai explorar durante as páginas. É também de forma assustadora que ela nos leva a refletir sobre os rumos que o planeta está tomando e como estamos sendo causadores de nossa própria destruição.

A autora dividiu os capítulos de forma a expor sobre alguma vida na terra que já se extinguiu ou está próxima à extinção. O primeiro capítulo, A SEXTA EXTINÇÃO, fala sobre a rã-dourada-do-panamá e alguns outros anfíbios que, infelizmente, já encontraram a extinção. A forma como KOLBERT narrou a descoberta dessas rãs e o processo que as levou a extinção foi bastante triste, principalmente porque muitos de nós não enxerga a grande importância que a biodiversidade tem no mundo. O homem hoje, preocupado com invencionices e aparatos tecnológicos, deixou de olhar para a natureza como se ela fosse um ser supremo. O homem de hoje pensa que pode domá-la, e não consegue ver que cada mínima mudança provocada nesse meio tão rico, pode levar a situações extremas e catastróficas. Apesar de a rã-dourada-do-panamá ser o foco do capítulo, a autora não descarta os outros anfíbios, e fiquei chocada por ter contato com esse capítulo logo assim, de cara, pois não faz muito tempo, umas três semanas no máximo, estava caminhando na rua com meu namorado e disse pra ele que há muito não via mais sapos em minha cidade. Nasci na capital de São Paulo e lá residi até meus 15 anos, e sempre que vinha passar as férias aqui (no interior) na casa de minha vó, ficava IMPRESSIONADA e ASSUSTADA com a quantidade de sapos que existiam na cidade. Eram MUITOS mesmo. Quando chovia então... Colocavam-se panos nas frestas das portas para que eles não passassem, se uma porta era esquecida aberta havia uma revista na casa inteira antes de dormir, tamanha quantidade deles e cara de pau ao adentrar nas casas. Aos 15 anos eu e meus pais nos mudamos para cá, e foram poucas às vezes em que vi sapos na cidade. Eles ainda existiam, mas em menor quantidade, bem menor quantidade. Três semanas atrás, quando comentei o fato de não ver mais sapos com meu namorado, foi porque passamos em uma calçada escura, coisa que ninguém fazia na minha infância, pois corríamos o risco de pisar em algum desses bichos a cada cinco passos, e hoje, ao ver ELIZABETH expor como as rãs e alguns anfíbios estão já extintos ou aos poucos estão se extinguindo, foi um choque de realidade muito grande, pois isso não é visto apenas no Panamá, local em que ela fez grande parte da pesquisa sobre os anfíbios, aqui mesmo, na minha pequena cidade, já é possível notar o quanto esses animais sumiram de cena. Sabia que A SEXTA EXTINÇÃO seria um livro que causaria grande impacto, mas não achei que logo no primeiro capítulo iria conseguir me alertar para o quão grave a situação já está.

O segundo capítulo, OS MOLARES DO MASTODONTE, já não achei tão interessante quanto o primeiro, mas sei que foi pelo fato de os animais aqui retratados já estarem extintos há muitos anos. Creio que pegar um ser que vive entre nós e mostrar como sua população vem sendo dizimada a cada dia causa um impacto muito maior na leitura. 



LIDO EM 05/01 – O PINGUIM ORIGINAL e A SORTE DAS AMONITES

KOLBERT inicia o capítulo O PINGUIM ORIGINAL falando sobre Darwin e sua teoria da evolução e extinção. O que mais achei interessante nesse capítulo foi a opinião de Darwin sobre a extinção e a forma como a jornalista a refutou, parecendo até mesmo abismada com os apontamentos dele, que dizia não ser possível observar a evolução e a extinção “a olho nu”, que a extinção existia por causa da evolução, que quando uma espécie evoluía e se tornava mais forte, outra deixava de existir. Darwin parecia não querer culpar o homem pela extinção de algumas espécies. O interessante é que KOLBERT demonstrou que enquanto ele ficou trancado estudando, os ornitólogos confirmaram e PRESENCIARAM a extinção do arau-gigante, ave que se assemelhava aos pinguins. Achei bastante interessante o fato de a autora colocar em xeque algumas crenças/opiniões de Darwin, ainda mais porque, logo após, ele próprio presenciou a extinção de uma espécie de tartaruga em uma de suas viagens a ilha Charles, mas ainda assim ele acreditava que a extinção era apenas um efeito colateral da evolução.
Ainda nesse capítulo, KOLBERT explica que os araus foram sumindo. Primeiro devido ao comércio de suas penas (pelo homem), depois pela matança da espécie (também pelo homem), e é de forma um tanto quanto chocante que ela relata como foi a morte do último casal da espécie. Foi uma leitura que me causou enorme raiva.

Já em A SORTE DAS AMONITES, a autora fala um pouco sobre o meteoro que devastou os dinossauros e eliminou ¾ da vida que existia na terra, e fala também das amonites, moluscos que também tiveram seu fim no Cretácio. Confesso que fiquei muito mais interessada no capítulo por causa dos dinossauros e do meteoro, e que as partes sobre as amonites pouco me atraíram.




LIDO EM 06/01 – BEM-VINDO AO ANTROPOCENO e O MAR AO NOSSO REDOR

Não li o livro inteiro, mas algo me diz que cheguei a dois capítulos dos mais interessantes em A SEXTA EXTINÇÃO.

BEM-VINDO AO ANTROPOCENO nos põe frente a algumas mudanças de paradigmas relacionadas à história das extinções. Nesse capítulo, ela retoma à primeira grande extinção, que levou ao fim 85% das espécies marinhas, e também nos insere dados medonhos sobre a datação das extinções, que acreditava ocorrer a cada 26 milhões de anos por causa de uma passagem de nosso sistema solar pela Via Láctea. Hoje essa concepção temporal não é mais aceita, mas não deixa de ser assustadora, ainda mais quando, poucas linhas depois, a autora nos conta que a extinção do Permiano-Triássico foi a maior e mais catastrófica de todas as extinções até o momento e que eliminou de vez praticamente toda forma de vida multicelular existente no planeta.

Outro ponto interessante do capítulo é a abordagem sobre os ratos. Em uma de suas viagens, ELIZABETH encontrou-se com um cientista que não apenas estudava o passado das extinções, como também tinha um olho no futuro da evolução de algumas espécies, e então ele desenvolveu sua teoria sobre os ratos e o comportamento e tamanho dessas criaturas daqui a alguns anos. Sim, achei assustador. Já ouvi tantas vezes a frase “se o mundo acabasse só as baratas sobreviveriam” que nunca parei para pensar o que aconteceria com outras formas de vida se elas permanecessem no planeta.

Acredito que O MAR AO NOSSO REDOR seja o capítulo mais importante do livro, pois ele nos insere no contexto de hoje e no que está acontecendo com nossos oceanos e clima. O tema do aquecimento global já é corriqueiro, mas, ainda assim, KOLBERT conseguiu apresentar dados assustadores e alarmantes sobre o assunto. Mas, ela adentrou ainda mais fundo no quesito dos oceanos e da enorme acidez que eles estão absorvendo devido à grande quantidade de CO2 que o homem vem produzindo.

Até esse momento da leitura eu estava aproveitando bastante, mas creio que esses dois capítulos fizeram com que eu tivesse um “baque” e visse o quão grave a situação está. Muito mais grave que imaginamos, muito mais grave que os meios de comunicação divulgam. Diante tantos apontamentos feitos, creio que o planeta precisa mais que um S.O.S para poder se recuperar. Não bastassem todos esses alertas, o capítulo ainda termina dizendo que estamos para deixar o legado mais cataclísmico na história do planeta.



LIDO EM 07/01 – VIAJANDO NO ÁCIDO

Nesse capítulo KOLBERT continua falando na acidez dos oceanos e o que a mudança climática está mudando nos mares e a que tipo de degradação pode levar. Ela dá uma maior ênfase aos recifes, contando desde os primórdios até a trágica e assustadora conclusão atual:

“É provável que os recifes venham a ser o primeiro principal ecossistema na era moderna a se tornar ecologicamente extinto”
(p.139).

Achei esse capítulo um tanto quanto maçante, mas a frase acima me despertou e fez com que eu lesse de forma mais interessada. Muitas vezes parecemos não dar tanta importância aos seres de menor tamanho, mas o interessante em A SEXTA EXTINÇÃO é a importância que a autora dá mesmo aos “menores” organismos que possuem vida. Menores entre aspas, pois, quando os recifes se juntam, podem margear quilômetros!



LIDO EM 08/01 – A FLORESTA E AS ÁRVORES e ILHAS EM TERRA FIRME

Em A FLORESTA E AS ÁRVORES somos inseridos com maior profundidade no estudo sobre a flora e como as mudanças climáticas a está atingindo. Apesar disso, afirma-se que as florestas tropicais tiveram mais sorte, pois ainda têm um acúmulo de diversidades biológicas, enquanto que os países que um dia já foram cobertos por gelo, não tiveram a mesma sorte. O capítulo também fala do Parque Nacional de Manú e do fato de ele provavelmente ser a região protegida com a maior diversidade biológica do mundo. Como muitos outros capítulos, esse também termina de forma um tanto chocante, com um especialista dizendo que

“se a evolução funcionar como costuma funcionar, então o cenário de extinção começará a parecer apocalíptico”
(p.182)

Em ILHAS EM TERRA FIRME fazemos uma viagem dentro do nosso país, na misteriosa Amazônia. Da flora à fauna, tudo é explorado. Confesso que fiquei bastante surpresa com o que foi apresentado, principalmente por saber que há mais de 30 anos existe um grande projeto na Amazônia que visa proteger todas as formas de vida. Acredito que por ver tantas vezes sobre o desmatamento que ocorre na região para a pecuária, nunca achei que de fato haveria um grupo cuidando dos interesses do meio ambiente, pelo menos não com tanto afinco e dedicação como demonstrado em A SEXTA EXTINÇÃO. A importância do projeto desenvolvido lá é tanta que ele vem sendo considerando o mais importante experimento ecológico já realizado. Apesar desses dados positivos, KOLBERT não deixa de expor o lado negativo do que vem acontecendo na região. Provavelmente por falar de “nós” é que esse capítulo foi tão interessante e um dos meus preferidos.



LIDO EM 09/01 – A NOVA PANGEIA e O RINOCERONTE FAZ UMA ULTRASSONOGRAFIA.

Em A NOVA PANGEIA passamos a conhecer mais sobre os morcegos, e como um misterioso pó branco eliminou 90% da espécie em algumas cavernas americanas. Esse pó, que a princípio fora uma incógnita, mostrou-se ser um fungo, provavelmente vindo da Europa, e que devorava a pele dos morcegos. Se alguns capítulos anteriores haviam me chocado, esse, além do profundo choque, levou-me a uma terrível angústia. Creio que pelo fato de termos a população dos morcegos dizimada quase que completamente em apenas 3 invernos, foi que fiquei assustada com o que foi apresentado. KOLBERT narrou de modo até triste como esses foram encontrados mortos dentro das cavernas, como seus corpos se espalhavam pelo chão delas e como era impossível pisar em um pedaço de solo que não tivesse um pequeno corpo. Foi bastante triste. Ainda no capítulo, a autora também falou de alguns insetos e como esses conseguem se proliferar de forma rápida, causando uma invasão, enquanto que os morcegos e muitos outros mamíferos têm uma reprodução mais lenta, o que contribui também a extinção de muitas espécies.

Já em O RINOCERONTE FAZ UMA ULTRASSONOGRAFIA, passamos a ter uma noção dos animais de grande porte e a forma como eles foram se extinguindo. A espécie de rinoceronte em questão (rinocerontes-de-sumatra), era, no século XIX, tão comum que era considerado uma praga, nos anos 1980 já estava reduzido apenas a poucas centenas de animais, e nos dias atuais não chega a uma centena, sendo que nos últimos 30 anos, apenas 3 rinocerontes nasceram. Com isso ela pega o gancho do capítulo anterior e aprofunda mais a questão do nascimento em mamíferos de grande porte e que geram apenas um filhote de cada vez e que têm a gestação mais demorada, como os ursos, elefantes-africanos, leões, tigres, chitas, onças... Por causa desses fatores, essas espécies de reprodução lenta, estão hoje em declínio, mais perto de chegarem à dizimação. Além disso, KOLBERT trouxe à tona algo bastante triste em relação aos rinocerontes e que me surpreendeu, pois nunca antes tinha ouvido falar de tamanho absurdo: muitos homens caçam esses animais por causa de seu chifre. Até aí não é novidade, o assustador é o motivo: o chifre do rinoceronte, além de valer 40 mil dólares o quilo, é inalado como cocaína em boates e festas da alta sociedade no Sudeste Asiático.

“Mil anos após a chegada do homem, os grandes mamíferos desapareceram”
(p. 239)



LIDO EM 09/01 – O GENE DA LOUCURA e A COISA COM PENAS.

Em O GENE DA LOUCURA ficamos conhecendo mais sobre o homem de Neandethal, suas semelhanças e diferenças com o homo-sapiens e como eles desapareceram, cerca de 30 mil anos atrás, justamente quando o homo-sapiens se fez presente nos lugares que eles habitavam.

“O azar deles fomos nós”
(p. 247)

O capítulo também aborda outros de nossos descendentes: os macacos, e é impossível não ler essa parte do livro e ficar pensando em O PLANETA DOS MACACOS. Aliás, é praticamente impossível ler A SEXTA EXTINÇÃO e não ficar pensando se já não estamos fazendo hora extra por aqui, se já não destruímos o suficiente, se já não é hora de outro meteoro cair para que tudo se inicie do começo...

Por fim, KOLBERT termina com A COISA COM PENAS, em que dedica o capítulo a falar sobre um simpático corvo que teve até de ser masturbado para poder se reproduzir, e em como existem seres humanos capazes de tudo para conservar as espécies e o planeta (e seria tudo mais fácil se muito mais gente estivesse disposta a mesma coisa). Um dos levantamentos mais importantes ela deixou para questionar nesse final de livro, em que nos conta que muitos dos grandes zoológicos do planeta conservam material genético de várias espécies congeladas, para o caso de extinção, mas se não seria mais fácil aprendermos a preservar do que cultivar espécies em vidro para posteridade.

Nas páginas finais, encontramos uma grande frase:

“O Homo Sapiens pode ser não apenas o agente da Sexta Extinção, mas corre o risco de ser uma de suas vítimas”.
(p.278)

Que aqueles que sejam à favor do planeta, da evolução e da modernidade me perdoem, mas sermos vítimas significaria apenas que estaríamos colhendo todo o mal e destruição que plantamos, portanto, mereceríamos esse papel.


A SEXTA EXTINÇÃO foi um livro que me causou curiosidade desde o seu lançamento, mas só depois de fazer sua leitura, de digerir cada capítulo, cada peculiaridade tão importante sobre as espécies que foi colocada em suas páginas, é que me dei conta do quão grandioso e significativo ele é. Um livro que deveria ser lido por toda a humanidade como um sinal de alerta para tudo que estamos destruindo. Uma leitura fascinante! 5 estrelas, claro!


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2 comentários:

  1. Estou doida pra ler esse livro, curto também não-ficção e essa resenha me deixa ainda mais curiosa em conferi essa história.

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